O homem freudiano vive o desamparo em sua fragilidade e finitude.

A experiência psicanalítica pelas ambiguidades, conflitos, identificações e desidentificações, propõe o homem trágico, aquele não mais submetido aos deuses, mas sujeito ao seu desejo, à transitoriedade, à morte, que se sustenta num tempo cronológico, linear, e ao mesmo tempo, está submerso no tempo circular, tempo do eterno retorno.

Em A transitoriedade (1916), Freud nos recorda o belo, o perfeito, ao qual se tem tanta dificuldade de renunciar. É, no entanto, o limite imposto pela finitude, o que imprime sentido à existência. “A limitação da possibilidade da fruição aumenta a sua preciosidade” (Freud, 1916/2010, p. 249).

Se o Efêmero condena, também impõe a criação da cultura.

No seu rastro, criam-se as religiões, com rituais que dispõem formas de transitar na fugacidade da vida e na infalibilidade da morte, na tentativa de dominar a angústia do humano. Ou, em tempos líquidos, é no transitório que se busca escapar da dor do luto, do sofrimento pela perda. Em uma cultura do “light”, do superficial, numa “era do vazio” (Lypovetsky, 1983), na qual se erige o “império do efêmero” (Lipovetsky, 1987), perdem-se os interrogantes que dão conta da espessura da subjetividade. 

Na precariedade do social, sem um projeto individual ou coletivo, sobrevém o autoritarismo ancorado num eterno narcisismo e suas falsas certezas. Entre o globalizado e o vincular sem estabilidade, faz-se patente a fragilidade e o efêmero das relações laborais, familiares, assim como amorosas, incluindo a amizade.

O ideal promove e exige a perfeição eternizada que se busca na plastificação do vivo, na reprodução ou na repetição sem criatividade, na urgência do “ter” como corolário de uma selvagem lógica do consumo.

Ars longa, vita brevis?

Mas o artista avança e mostra a arte sob um conceito de não permanência, como objeto artístico e de fugacidade, mutante e sujeito à ação do tempo.

Seguindo o artista, como psicanalistas, buscamos validar o instante fugaz do encontro, criador da narrativa sustentada pela escuta, pela presença, e que permite a história, o recordar e a construção do humano.

O tema O Êfemero, atravessa a vida e abre-se para uma diversidade de eixos que percorrem a psicanálise desde seus primórdios com a Interpretação dos sonhos até Análise Terminável, Interminável.

Convidamos então os colegas a compartilhar seus relatos, suas narrativas em torno do Efêmero tema do próximo número de Caliban, RLP.

Pedimos a gentileza de que atentem para as orientações aos autores, pois serão aceitos os trabalhos que cumpram estas diretrizes que podem ser encontradas nas ultimas páginas de cada número de Calibán ou no site: calibanrlp.com.

Os trabalhos devem ser enviados até a data máxima de 31/05/2020, para revistacalibanrlp@gmail.com e editorescaliban@gmail.com

Equipe Editorial de Calibán, RLP

Referências:
Freud, S. (2010) A Transitoriedade In Freud Obras Completas vol 12, trad. Paulo Cesar de Souza, SP, Cia das Letras (Trabalho original publicado em 1916)
Lipovetsky, G. (1983) L’Ère du vide. Essais sur l’individualisme contemporain, Paris, Ed. Gallimard
Lipovetsky, G. (1987) L’empire de l’éphémère. La mode et son destin dans les sociétés moderne Paris, Ed. Gallimard

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